quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Novembro de 2013 - MALCOLM LOWRY

 Postagem em construção

Encontro 61, 12/11/2013.
 



 
Mezcal de Oaxaca
 



A SOMBRA DO VULCÃO
 
BAJO EL VOLCÁN
 
 
 
 
 
 

Vulcões/Volcanes Iztaccíhuatl y Popocatépetl - México


 
 
 
 
 Clarence Malcolm Lowry (1909 - 1957) foi um escritor e poeta inglês,
cuja obra prima, A sombra do Vulcão (1947), é
considerada um dos melhores romances do século XX.

Clarence Malcolm Lowry (1909 - 1957) fue un escritor y poeta inglés,
cuya obra prima Bajo el volcán (1947),
 es considerada una de las mejores novelas del siglo XX.
 
 
 
 
CINEMA
 
 
O filme Under the Volcano, lançado em 1984 foi indicado para os Prêmios Oscar nas categorias: melhor ator (Albert Finney) e melhor trilha sonora. Também foi indicado como melhor filme no Festival de Cannes.

Protagonistas: Albert Finney, Jackeline Bisset, Anthony Andrews e Katy Jurado
Direção: John Huston

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Lembrancinhas do encontro


Mia Couto


O machos lacrimosos

  Eles se encontravam por causa de alegrias. No bar de Matakuane, os homens anedotavam, fabricando risadas. Um único móbil: festejavam a vida. As suas esposas não suportavam aquele disparatar. Afinal, elas, as mulheres, não precisam de ritual para festejar a vida. Elas são a festa da vida. Ou a vida em festa? Para elas, aquela cumplicidade masculina era coisa de tribo. Reminiscência atávica.

  Mas os homens não se importavam. Fosse atávico e tribal, eles mantinham o cerimonial. Cada um que chegava ao bar disparava, logo à entrada:

- Sabem a última?

  E assim se produziam eles, se consumiam elas. Até que sucedeu a noite em que Luizinho Kapa-Kapa, o grande animador dos encontros, trouxe a notícia tristonha. Estava-se em lua muito minguante e ali, na esplanada, pela primeira vez, os copos ficaram cheios toda a noite. É que Luizinho foi desenrolando a história com voz acabrunhada. Antes de chegar ao busílis do relato, quem sabe um irreversível falecimento, Kapa-Kapa cascateou-se em pranto. E os amigos, copo suspenso, em redor da mesa:

- Então, Kapa-Kapa, como é que é?

  Até o musculoso e calado estivador Silvestre Estalone ajudava a animar o lamentoso:

- Verticaliza, homem, verticaliza.

  Mas o choroso todaviou-se. E foi crescendo de choraminguado para carpideiro. Entre soluços, soltava os fios da fúnebre narrativa. Já nem se percebia palavra, tal maneira as falas vinham envoltas em babas. Na sala surgiu um lenço e rodou de mão em mão, coletando excessos. Tarde de mais: as chamas da tristeza já haviam devorado o coração de Kapa-Kapa.
  Desistiram de o consolar. Amolecidos, os amigos foram-se rendendo a um descaimento no peito, o singelo peso da lama na alma. Fosse isso a tristeza. E chegou mesmo a escorrer, dissimulata, uma lágrima no rosto barbudo do dono do estabelecimento.
  No dia seguinte, quando se sentaram no bar, ainda foi disparado um gracejo: Sabem a última? Mas o homem logo se arrependeu: o que ele estava a dar era um ar de sua desgraça. A melancolia se instalara como toalha sobre a mesa. Silvestre Estalone ainda insistiu com nova graça. Mas ninguém riu. Estava-se mais interessado em escutar os novos capítulos da tristeza.
  E pediram a Luizinho Kapa-Kapa: ele que divulgasse mais detalhes, rasgando véus, desocultando destinos. E o Luizinho desfez-se na vontade: o drama se desfolhou, ante o olhar lacrimoso dos presentes. Não tardou que todos chorassem babas e rebanhos.
  E foi sucedendo uma e outra noite. Uma e outra rodada de tristeza. Os baristas de Matakuane foram deixando a piada e o riso. E passaram a partilhar lamentos, soluços e lágrimas. E até Silvestre Estalone, o mais macho e sorumbático da tribo, acabou confessando:

- Nunca eu pude imaginar, malta. Mas como é bom chorar!

  Chorar, mas chorar junto, acrescentaram os outros. E até um se lembrou de propor uma associação de choradores. Pudessem mesmo substituir as profissionais carpideiras dos velórios. Mas os restantes se opuseram, firmes. Afinal, ainda restava neles o fundo preconceito macho de que lágrima pública é coisa para o mulherido.
  E foi sucedendo tão devagar que nem parecia acontecer. Ocorria, porém, que os antigos anedoteiros passaram a mudar de trato com o mundo. Aos primeiros sinais do anoitecer lá um declarava ter que regressar a casa.

- Para ajudar a minha gente - confessava, meio envergonhado.


E um outro declinava a insistência de mais uma bebida.

- Não quero que a minha patroa se zangue - justificava.

- Quem quer bebida, pede medida - proverbiavam todos.

E mesmo o Silvestre, que era quem sempre fechava o bar, apelava para que olhassem o relógio. Voltassem todos aos seus lares, convidava o ex-boémio.

- Sim, vamos para nossas casas. Mas não sem derramarmos mais uma lágrima.

- Sim, sai uma para o caminho.

  E lá vinha mais história de puxar lustro à tristeza. Que chorar era coisa de maricas, isso já nenhum se lembrava. Nos arredores do bar, a noite se adoçava, escutando-se o suave soluçar da rapaziada.

  As mulheres até recearam ao ver tanta mudança: seus homens, inexplicavelmente, se revelavam mais delicados e atenciosos. E palavras, flores, carinhos: tudo isso elas passaram a receber. Mordedura de mosca, repentina mudança de idade? E acertaram nem sequer perguntar. Aquilo era tão bom, tão inverossímil, que o melhor era deixar dormir a poeira.

  Hoje quem passa pelo bar de Matakuane pode certificar: chorar é um abrir do peito. O pranto é o consumar de duas viagens: da lágrima para a luz e do homem para uma maior humanidade. Afinal, a pessoa não vem à luz logo em pranto? O choro não é a nossa primeira voz?

  E é o que, por outras palavras, sentencia Kapa-Kapa: a solução do mundo é termos mais do nosso ser. E a lágrima nos lembra: nós, mais que tudo, não somos água?



Mia Couto (2004). O fio das missangas: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009

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Christina Rossetti (Londres, 1830-1894)

Song
Christina Rossetti

When I am dead, my dearest,
Sing no sad songs for me;
Plant thou no roses at my head,
Nor shady cypress tree.
Be the green grass above me
With showers and dewdrops wet;
And if thou wilt, remember,
And if thou wilt, forget.
I shall not see the shadows,
I shall not feel the rain;
I shall not hear the nightingale
Sing on as if in pain.
And dreaming through the twilight
That doth not rise nor set,
Haply I may remember,
And haply may forget.




Canção
Christina Rossetti
(Tradução de Manuel Bandeira)


Em minha sepultura
Ó meu amor, não plantes,
Nem cipreste nem rosas,
Nem tristemente cantes.
Sê como a erva dos túmulos
Que o orvalho umedece.
E se quiseres lembra-te;
Se quiseres, esquece.

Eu, não verei as sombras
Quando a tarde baixar;
Não ouvirei de noite
O rouxinol cantar.
Sonhando em meu crepúsculo,
Sem sentir, sem sofrer,

Talvez possa lembrar-me,
Talvez possa esquecer.




 

9 comentários:

  1. "Certamente o sr. Bustamente não conhecia o Cônsul muito bem, apesar de costumar andar de olhos abertos, mas toda a cidade o conhecia de vista, e a impressão que ele dava, ou deu, pelo menos, nesse último ano, além é claro de estar sempre borracho, era a de alguém que vivia num contínuo terror da própria vida." (pg. 38)

    O livro é difícil no início, muitos personagens, estórias paralelas, mas depois que a Yvonne chega, desanda e os pontos começam a se conectar. Como estão?

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  2. oi, patricia! ainda estou neste começo difícil (e parece que amarrado). bom saber que a história começa a fluir depois de determinado ponto!

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  3. Minha experiência até agora com a Sombra do vulcão é a seguinte: Li 50 páginas do meu livro em espanhol e tinha dificuldade para avançar e entender a história. Ontem recebi o livro em português e decidi recomeçar a leitura (em port). Acho que a tradução de meu livro em espanhol não era boa ou talvez estava precisando mesmo de uma releitura. Estou curtindo muito desta narrativa de bêbados cheia de descrições e de sentimento. É fantástico como o autor compara os sentimentos com a paisagem. Tudo é muito simbólico. O Palácio, os abismos, o bunker do inferno...

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  4. “Sua paixão por Yvonne (...) trouxera-lhe novamente ao coração, de um modo que não conseguiria explicar, a primeira vez em que sozinho andando por campinas a partir de Saint Près, a modorrenta cidadezinha francesa de represas e eclusas e cinzentas azenhas desusadas onde estava hospedado, ele tinha visto, erguendo-se lenta e portentosamente e com desmesurada beleza por sobre os campos ceifados onde explodiam flores silvestres, lentamente se erguendo à luz do sol, como séculos antes os peregrinos errantes por aqueles mesmos lugares puderam vê-las se erguer, as torres geminadas da catedral de Chartres. M. Laruelle passou a andar mais depressa em direção ao Palácio. Seu amor trouxera uma paz que por mais, efêmera que fosse, era de estranho modo como o encanto, o fascínio da própria Chartres de outrora, na qual passara a amar cada viela e o café de onde podia fitar o eterno velejar da catedral contra as nuvens, fascínio que não se dissolvia nem mesmo por ele estar ali tremendamente endividado.” A sombra do vulcão, de Malcolm Lowry

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  5. Bem escrito, mas cansativo.

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  6. E o popocatepetl, o "popeye", como apelidou carinhosamente, esse gigante sempre presente, angustiando a todos: "O sol brilhava sobre eles, brilhava sobre a eterna ambulância, cujos faróis estavam momentaneamente transformados numa lente ofuscante, e ardia sobre os vulcões - para os quais ela agora não podia olhar. Mas Yvonne, nascida no Havaí, já tivera em sua vida, antes, outros vulcões."

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  7. Estou amando!!!!! Mais uma forma de entender a escrita. Esse ano tem sido demais os conhecimentos que tenho adquirido, através das leituras dos livros propostos e dos comentários desse grupo que é especial. Obrigada a todos. Bem se vê que estou entusiasmada com o livro, rsrsrs.

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  8. Não vou conseguir ler este livro ,Gaby. Ano que vem trilharei junto com vocês do meu clube tão querido, os caminhos da leitura novamente. Ainda não estou organizada aqui.Que tal este livro?

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  9. Oi Dé!! Este livro é muito bom mas é um desafio!! A gente entra na mente de um bêbado!! Eu nunca tinha lido nada igual!! É uma bela descoberta, mas tem alguma partes densas. As descrições são fantásticas. O narrador salta de uma ideia, a uma observação, a um sentimento, de uma linha a outra!! Tenta ler Tolstói para fechar o ano!! Vai ser ótimo esse livro e É curto!! Tenho que sair agora!! Depois conversamos!!! Bjs e saudades!!!

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