terça-feira, 8 de setembro de 2009

Setembro de 2009 - Aravind Adiga


O TIGRE BRANCO

do escritor indiano Aravind Adiga





"Incivilizado, bárbaro, órfão de sensibilidade e pobre de palavra, ignorante e grave, alheio à paixão e ao erotismo, o mundo sem romances, esse pesadelo que procuro delinear, teria como traço principal o conformismo, a submissão generalizada dos seres humanos ao estabelecido. Também nesse sentido seria um mundo animal. Os instintos básicos decidiriam a rotina cotidiana de uma vida oprimida pela luta pela sobrevivência, pelo medo do desconhecido, pela satisfação das necessidades físicas..."
(Mario Vargas Llosa, in "A Cultura do Romance")


O encontro do Tigre Branco foi intenso, repleto de debates sobre o capitalismo, a discriminação e a sociedade moderna. Tão intenso foi que nos esquecemos de tirar a foto do grupo!

O escritor narra uma história de traições entre Balram e Ashock (empregado-patrão). Trata-se de um romance onde o sarcasmo e a ironia estão sempre presentes.

Achamos interessante como o narrador define a Índia: “... A Índia são dois países em um: uma Índia da luz e outra da escuridão.” E de como nos informa as características da sociedade hinduísta.

Com relação ao conceito da gaiola dos galos, perguntamo-nos por que será que a mesma funciona tão bem? Por que os próprios galos se policiam? Falamos da cultura e do medo da violência.

Na nossa sociedade o diferente é criticado e o louco é excluído, talvez por isso, só um tigre branco tenha sido capaz de vencer a gaiola deste romance.

Também nos perguntamos em que momento Balram definiu o plano para se libertar.
O personagem principal é um criminoso? Um sobrevivente? Ou, apenas um ser humano?

A Mariana (participante do encontro) compartilhou conosco por escrito sua reflexão sobre o livro. O texto completo se encontra nos comentários desta postagem:

“Para nós, ocidentais, a Índia se apresenta como aquela terra cheia de misticismo, a Meca de toda religiosidade profunda, [...], temos ainda o sentimento de uma Índia religiosa e moral que tomamos como exemplo para alcançar o mais profundo da purificação de nossas almas.
Nesse imaginário aparece Balram Halwai, o Tigre Branco, para nos dizer que isto não é verdade, que existe um “lado escuro”, um outro lado que ainda não olhamos.

Será hoje o momento de Aravind Adiga, autor do livro, de evidenciar com seu romance o sofrimento do povo indiano, de fazer conhecer através de O tigre Branco a realidade que habita hoje esse continente, e caberá a nós, com nosso olhar ocidental, compreender e aceitar as dicotomias que nessa sociedade existem. ”

O Tigre Branco bate direto na consciência do leitor. É uma história escrita com força, um romance com uma visão revolucionária. Adoramos este livro!

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Comentarios en español:


El encuentro del Tigre Blanco fue intenso, lleno de debates sobre el capitalismo, la discriminación y la sociedad moderna. Es una novela atrapante, narrada con audacia, sarcasmo e ironía. El escritor define a la India como dos países en uno: “…la India de la luz y la India de la oscuridad.”
Con relación a la jaula de los gallos nos preguntamos: ¿Por qué será que funciona tan bien? ¿Por qué los propios gallos se vigilan?
En nuestra sociedad, el diferente es criticado y el loco es excluido. Tal vez por ello sólo un tigre blanco fue capaz de vencer la jaula de esta novela.
Hablamos de la cultura hindú, del miedo a la violencia, del sometimiento de algunas clases sociales.
También nos preguntamos en qué momento Balram definió el plan para liberarse. ¿Balram es un criminal, un sobreviviente o apenas un ser humano?
El Tigre Blanco golpea directo la conciencia del lector. Es una historia escrita con fuerza, una novela con visión revolucionaria. ¡Adoramos este libro!

“Vete al viejo Delhi... y mira como tienen a las gallinas en el mercado. Cientos de gallinas pálidas y gallos de colores brillantes, todos apretujados en jaulas de malla de alambre... Los aves de corral ven los órganos vitales de sus hermanos esparcidos por alrededor. Saben que próximamente les tocará. Pero no se rebelan. No tratan de escapar del gallinero. Es lo mismo con los seres humanos en este país."



Aravind Adiga nació en Madrás en 1974, vivió parte de su vida en Australia y los Estados Unidos, actualmente trabaja como periodista en Mumbai, India. Este libro ganó el Man Booker Prize de 2008.
Debajo de la foto hay un link con una entrevista al autor.
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Aravind Adiga nasceu em Madras (atual Chennai) em 1974, mas viveu parte da sua vida na Austrália e nos Estados Unidos. Estudou nas universidades de Columbia e Oxford e foi colaborador de publicações tão prestigiadas como a revista Time e Financial Times. Atualmente é jornalista freelancer e vive em Mumbai, na Índia.

O livro ganhou o prêmio britânico Man Booker Prize em 2008.

No link http://www.themanbookerprize.com/news/videoplayer/10 é possível assistir a uma pequena entrevista com o autor.


A Cultura Hinduísta
O hinduísmo é um conglomerado de crenças, uma tradição religiosa. Esta tradição é chamada de sanātana dharma (religião eterna) porque acreditam que não tem nem principio, nem fim.

Basicamente, os hinduístas acreditam que por detrás do universo visível (Māyā), que tem ciclos sucessivos de criação e destruição, há outra existência eterna que não muda.


O maior dos logros dos hinduístas constitui em abandonar o ciclo de reencarnações (samsara) e retornar ao universo espiritual. Ao longo do rio Ganges há inúmeros lugares sagrados. Acredita-se que ficar imerso no rio serve para perdoar pecados. Depositar as cinzas de um cadáver no Ganges evitaria o ciclo de reencarnações ao morto.


Há práticas que todos respeitam, como reverenciar os bráhmanas (sacerdote) e as vacas (não comer carne delas) e casar-se com pessoas das mesmas castas.


O hinduísmo é tão complexo que é difícil descrevê-lo. Caracteriza-se pela multiplicidade de deuses. A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos avatares (manifestações corporais) da divindade suprema, Brâman. Particular destaque é dado à Trimurti - uma trindade constituída por Brama (Brahma), Xiva (Shiva) e Vixnu (Vishnu). Cada religião tem a sua própria doutrina.




Frases retiradas do livro:

“(... ninguém se lembra tão bem de sua escolaridade como as pessoas que tiveram de sair da escola).”


“A história da vida de um pobre é escrita na sua pele, com uma caneta de ponta bem afiada.”


“Essas são as principais doenças na Índia, senhor primeiro-ministro: o cólera, a febre tifóide e a eleitoral. Esta última é a pior de todas, pois faz as pessoas falarem, falarem sem parar, de coisas sobre as quais não têm nada a dizer.”

“...a polícia foi me procurar na escuridão, mas me escondi na luz.”


“Escovar. Escovar. Cuspir.
Escovar. Escovar. Cuspir.
Por que será que meu pai nunca me disse para não coçar meu saco? Por que será que meu pai nunca me ensinou a escovar os dentes com aquela espuma leitosa? Por que será que ele me criou para viver feito um bicho? Por que será que todos os pobres vivem desse jeito, na sujeira e na feiura?
Escovar. Escovar. Cuspir.
Escovar. Escovar. Cuspir.
Se, pelo menos, os homens pudessem cuspir assim o seu passado, com essa facilidade...”


“A coisa mais importante que se inventou neste país, nos seus dez mil anos, foi a Gaiola dos Galos.”


“Aqui na Índia, não temos ditadura. Nem polícia secreta. Porque temos a gaiola.”

“Você passou anos procurando pela chave
Mas a porta sempre esteve aberta!”

“No passado, fui motorista de um patrão, mas, agora, sou patrão dos motoristas. Não os trato como criados: não bato, não maltrato, não debocho. Tampouco os insulto, dizendo-lhes que eles são a minha “família”.”

“Um tigre branco não tem amigos. Isso é perigoso demais.”


“Será que odiamos nosso patrões por detrás de uma fachada de amor, ou será que os amamos por detrás de uma fachada de ódio?”


“Os sonhos dos ricos e dos pobres não têm nada em comum, não é mesmo?
Veja bem. Os pobres passam a vida toda sonhando em ter o que comer e ficar parecendo os ricos. E estes sonham com o quê?
Querem emagrecer e ficar parecendo os pobres.”


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Acontece no fim de semana dos dias 12 e 13 de setembro:
Primavera dos livros - http://libre.org.br/
Encontro virtual sobre poesia: http://dinosanfibios.ning.com/

                                                                       

O livro para outubro foi votado, em uma seleção de obras do século XIX:

Madame Bovary
de Gustave Flaubert


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Um abraço e boa leitura!



Andréa e Gabriela

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