segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Exposição Saramago e o 3° encontro!

A consistência dos sonhos.

Na última terça-feira, fizemos o primeiro encontro fora do espaço já conhecido do Nosso Clube de Leitura.
Fomos visitar a exposição de José Saramago – A consistência dos sonhos – no Espaço Tomie Ohtake, em São Paulo. E acabamos encerrando o encontro com um almoço delicioso (a comida, sempre presente!) no restaurante Cigana.

Lá pudemos explorar um pouco sobre a vida do escritor, desde a paupérrima infância em Azinhaga, Portugal, até a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel.

Uma das dúvidas cruciais da última discussão que tivemos no Nosso Clube de Leitura era saber, afinal, porque Saramago escreve como escreve? Na exposição pudemos ter algumas dicas do motivo.
No documentário que vimos na exposição, “Le temps d´une mémoire”, de 2003, ele afirma que pensa na escrita como uma música; e por isso não utiliza sinais de pontuação. Assim, seu ponto significaria uma pausa mais longa e a vírgula, uma pausa mais breve. Ainda em 1968, em um artigo escrito (e não publicado por ter sido censurado) para um jornal português, nos chamou a atenção seu questionamento crítico sobre o uso corrente de tantas palavras em letras maiúsculas, como Liberdade, Esperança, Igualdade, entre outras; e aí nos pareceu que sua escrita atual, sempre em minúsculas, pode ser usada como um protesto contra o mundo que ele tanto critica. Como ele mesmo disse no documentário citado acima, como uma reação contra a violência simbólica do poder do Estado, da Igreja, contra o preconceito. Que fique claro, neste texto, que essa percepção foi a que nos tocou sentir. Aguardamos comentários.

Descobrimos também, nessa visita, que, apesar de tantos livros anteriores escritos, foi a partir de 1980 (portanto, aos 58 anos) que finalmente inventa um estilo próprio de escrever – o estilo saramaguiano. Os três primeiros grandes romances (“Levantado do chão”, “Memorial do Convento” e “O ano da morte de Ricardo Reis”) marcam seu “particular estilo barroco, com contínuas digressões e combinações da história com a fantasia. O escritor aborda nestas obras a sua particular revisão da história, dando voz aos que não a tiveram, fazendo-os visíveis e interpretando a ficção como revisão do passado.”

Não conseguimos descobrir especificamente, no entanto, quando foi que o escritor começou a comer sinais de pontuação? Contamos com suas buscas e pesquisas...
Como ele próprio já disse: “Ninguém se deve contentar com o que lhe dizem. Deve averiguar se é verdade. Saber se é a única verdade e cotejá-la com a verdade dos demais. Há que procurar sempre o outro lado de tudo.”

Poema escrito em junho de 1944:
O homem diz que sabe o caminho

O homem diz que sabe o caminho
Mas não o acrediteis porque o homem não sabe o caminho.

E o que o homem disse
E o que o homem diz
E o que o homem dirá
Nada tem de comum com o que o homem disse e diz e dirá.

E o homem teima que sabe o caminho
Mas o pobre do homem não sabe, não sabe o caminho.

E o que o homem disse
E o que o homem diz
E o que o homem dirá
Nada tem de comum com o que o homem disse e diz e dirá.

E há sessenta séculos que o homem diz: Eu sei o caminho
Mas nós sabemos que o homem não sabe o caminho.

E o que o homem disse
E o que o homem diz
E o que o homem dirá
Nada tem de comum com o que o homem disse e diz e dirá.

E outros sessenta séculos ouviremos o homem dizer: Eu sei o caminho
Mas o pobre do homem não soube não sabe nem saberá jamais o caminho.

E o que o homem disse e diz e dirá
Nada tem de comum com o que o homem disse
Com o que o homem diz
Com o que o homem dirá.

José Saramago




Gabriela, Andréa y Patricia


20 de janeiro - 3°encontro!


"Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"
(Eduardo Galeano, "O livro dos abraços")





Faltam na foto Tania, Marcela e Yoly.


Doença quase impediu que terminasse A VIAGEM DO ELEFANTE

A épica viagem do elefante Salomão nasceu da imaginaçao do escritor português José Saramago em 1999, mas só tomou forma como livro em 2006, quando ele esteve entre a vida e a morte.Ele sofreu uma grave doença respiratória, da qual temeu não escapar. "Escrevê-lo não foi um passeio ao campo." (...) A partir do fato inusitado da viagem do elefante de Lisboa até Viena, Saramago utiliza seu tradicional humor e pregaçã humanista para mostrar a habitualmente difícil relação dos homens entre si e também com os animais. Uma solidariedade compassiva, como já observou Saramago.

A idéia de A VIAGEM DO ELEFANTE surgiu quando o escritor visitou a Áustria, há quase dez anos, e almoçou, por acaso, em um restaurante de Salzburgo chamado O Elefante. Na narrativa, Saramago une figuras históricas verdadeiras com personagens criados em sua imaginação. "Estas são pessoas que os membros desta caravana encontram na sua viagem, e com quem partilham perplexidades, esforços e harmoniosa alegria de um telhado sobre as suas cabeças", disse, em entrevista à imprensa espanhola. Mesmo temendo não concluir o conto por causa do agravamento da doença, Saramago conta que não alterou a história original. "Os anos não passam em vão. Não foi um passeio ao jardim. Algo do que vivi terá passado para o que escrevi. Mas, de qualquer forma, os elementos essenciais da história não mudaram.", disse ele, revelando sua felicidade e alívio por ter concluído o trabalho."Pode a literatura salvar a nossa vida?", pergunta o entrevistador. "Não como um medicamento, mas é uma das fontes mais ricas onde o espírito pode beber."


Pode-se dizer que “A Viagem do elefante” foi para muitos um livro paquidérmico, lento e pesado. Narrado ao ritmo dos passos de nosso amigo Salomão/Solimão.

Adoramos o poder de Subhro que, sendo um humilde cornaca em terras estrangeiras, consegue (por momentos) ter mais poder que a própria realeza, a milícia e a igreja.


Houve menos debate que nos encontros anteriores, mas conseguimos ler diversas frases interessantes que nos fizeram rir da ironia com que o autor escreve:
· Temos portanto neste relato dois discursos paralelos que nunca se encontrarão, um, este, que poderemos seguir sem dificuldade, e outro que, a partir deste momento, entra no silêncio. Interessante solução.
· Fez plof e sumiu-se. Há onomatopéias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas pelo menos dez páginas. Plof.
· Fritz foi içado para o cachaço de solimão, donde para frente e para trás, podia desfrutar da imponente visão da caravana em toda sua extensão. Acima dele ninguém viajava, nem sequer o arquiduque da Áustria com todo o seu poder. Capaz de mudar os nomes a um homem e a um elefante, mas com olhos à altura da mais comum das pessoas, era levado dentro de um coche onde os perfumes não conseguiam disfarçar de todo os maus cheiros exteriores.

Um abraço a todos!!!
Andréa e Gabriela =)

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