A mulher que mergulhou no coração do mundo
La mujer que buceó dentro del corazón del mundo
“Muitos anos depois, muitas palavras depois, muitos livros depois, encontrei numa folha de um livro antigo, escrito por um filósofo francês, uma frase que coloca em palavras a minha distância dos humanos.
Penso, logo existo.
A frase me deixou de boca aberta, porque é, evidentemente, inacreditável. Basta ter dois olhos na cara para ver que tudo o que existe primeiro existe e depois faz outras coisas.
Porém, o mais incrível é que o filósofo não está propondo que seja assim, mas apenas colocando em palavras o que os humanos pensam a respeito de si mesmos: que primeiro pensam e depois existem.
E o pior é o seguinte. Como os humanos vivem assim, acreditando que primeiro pensam e depois existem, pensam que tudo aquilo que não pensa não existe completamente.
As árvores, o mar, os peixes dentro do mar, o sol, a lua, uma montanha ou uma enorme cordilheira: não, não existem completamente, existem num segundo nível de existência, uma existência menor. E, portanto, merecem ser mercadoria ou alimento ou paisagem dos humanos, e nada mais.
E quem garante aos humanos que o pensamento é a atividade mais importante do universo? Quem garante que o pensamento é a atividade mais importante do universo? Quem garante que o pensamento é a atividade que divide todas as coisas entre superiores e inferiores?
Ah, o pensamento.
Mas, em compensação, Eu nunca esqueci que primeiro existi e depois aprendi, muito trabalhosamente a pensar.”
"Muchos años después, muchas palabras después, muchos libros después, encontré en una hoja de un libro antiguo, escrito por un filósofo francés, una oración que pone en palabras mi distancia con los humanos.
Pienso, luego existo.
La oración me dejó la boca abierta, porque es, evidentemente, increíble. Basta tener 2 ojos en la cara para ver que todo lo que existe, primero existe y luego hace otras cosas.
Pero lo más increíble es esto, que el filósofo no propone que así sea, sino que sólo pone en palabras lo que los humanos creen acerca de sí mismos. Que primero piensan y luego existen.
Y lo peor es lo que sigue. Que como los humanos viven así, creyendo que primero piensan y luego existen, piensan que todo aquello que no piensa no existe del todo.
Los árboles, el mar, los peces dentro del mar, el sol, la luna, un cerro, una enorme cordillera: no, no existen del todo, existen en un segundo nivel de existencia, una existencia menor. Por lo tanto merecen ser mercancía o alimento o paisaje de los humanos, y nada más.
¿Y quién les asegura a los humanos que el pensamiento es la actividad más importante del universo?¿Quién les asegura que el pensamiento es la actividad que distingue todas las cosas entre superiores e inferiores?
Ah, el pensamiento.
En cambio, Yo nunca he olvidado que primero existí y luego aprendí, y muy trabajosamente, a pensar.
Y cada día para mí ésa es la realidad. Yo primero existo y luego, y sólo a veces, y con una lenta dificultad, y nada más cuando es estrictamente necesario, pienso.
Bueno, y ésa es mi distancia con los humanos".
Penso, logo existo.
A frase me deixou de boca aberta, porque é, evidentemente, inacreditável. Basta ter dois olhos na cara para ver que tudo o que existe primeiro existe e depois faz outras coisas.
Porém, o mais incrível é que o filósofo não está propondo que seja assim, mas apenas colocando em palavras o que os humanos pensam a respeito de si mesmos: que primeiro pensam e depois existem.
E o pior é o seguinte. Como os humanos vivem assim, acreditando que primeiro pensam e depois existem, pensam que tudo aquilo que não pensa não existe completamente.
As árvores, o mar, os peixes dentro do mar, o sol, a lua, uma montanha ou uma enorme cordilheira: não, não existem completamente, existem num segundo nível de existência, uma existência menor. E, portanto, merecem ser mercadoria ou alimento ou paisagem dos humanos, e nada mais.
E quem garante aos humanos que o pensamento é a atividade mais importante do universo? Quem garante que o pensamento é a atividade mais importante do universo? Quem garante que o pensamento é a atividade que divide todas as coisas entre superiores e inferiores?
Ah, o pensamento.
Mas, em compensação, Eu nunca esqueci que primeiro existi e depois aprendi, muito trabalhosamente a pensar.”
"Muchos años después, muchas palabras después, muchos libros después, encontré en una hoja de un libro antiguo, escrito por un filósofo francés, una oración que pone en palabras mi distancia con los humanos.
Pienso, luego existo.
La oración me dejó la boca abierta, porque es, evidentemente, increíble. Basta tener 2 ojos en la cara para ver que todo lo que existe, primero existe y luego hace otras cosas.
Pero lo más increíble es esto, que el filósofo no propone que así sea, sino que sólo pone en palabras lo que los humanos creen acerca de sí mismos. Que primero piensan y luego existen.
Y lo peor es lo que sigue. Que como los humanos viven así, creyendo que primero piensan y luego existen, piensan que todo aquello que no piensa no existe del todo.
Los árboles, el mar, los peces dentro del mar, el sol, la luna, un cerro, una enorme cordillera: no, no existen del todo, existen en un segundo nivel de existencia, una existencia menor. Por lo tanto merecen ser mercancía o alimento o paisaje de los humanos, y nada más.
¿Y quién les asegura a los humanos que el pensamiento es la actividad más importante del universo?¿Quién les asegura que el pensamiento es la actividad que distingue todas las cosas entre superiores e inferiores?
Ah, el pensamiento.
En cambio, Yo nunca he olvidado que primero existí y luego aprendí, y muy trabajosamente, a pensar.
Y cada día para mí ésa es la realidad. Yo primero existo y luego, y sólo a veces, y con una lenta dificultad, y nada más cuando es estrictamente necesario, pienso.
Bueno, y ésa es mi distancia con los humanos".
Sabina Berman
__________________________
Lembrancinha do encontro:
Poemas de
WISLAWA SZYMBORSKA
Sob uma estrela pequenina
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
Wislawa Szymborska - escritora polonesa,
ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura 1996
O terrorista, ele observa
A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
Agora são treze e dezesseis.
Alguns ainda terão tempo de entrar;
alguns de sair.
O terrorista já passou para o outro lado da rua.
A distância o livra de todo mal.
E a vista, bom, é como no cinema:
Uma mulher de jaqueta amarela, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Uns jovens de jeans, eles conversam
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta,
e aquele mais alto entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
Uma moça, ela passa de fita verde no cabelo.
Só que aquele ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
se foi tola de entrar ou não
vai se saber quando os carregarem para fora.
Treze e dezenove.
Parece que ninguém mais entra.
Aliás, um gordo careca sai.
Mas remexe os bolsos como se procurasse algo
e às treze e vinte menos dez segundos
ele volta para buscar a droga das luvas.
São treze e vinte.
O tempo, como ele se arrasta.
Deve ser agora.
Ainda não.
É agora.
A bomba, ela explode.
Está dando tempo para ler entre jogo e jogo? Rs
ResponderExcluirEstou adorando o livro de Sabina Berman. Uma verdadeira mergulhada no coração dos animais e do mundo!!
Terminei nessa noite. A personagem é mestre para quem quer aprender a escrever de forma real, sem metáforas e, mesmo assim, atraindo a atenção do leitor. Viva! Mais um! Mais um aprendizado!
ResponderExcluirEstá muito bem escrito!! Vou pela metade! É um ensinamento esse livro!! Amanhã começo a postar trechos que tenho marcados!!! Depois do jogo de Argentina Rs Bjs
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPenso, logo existo – René Descartes
ResponderExcluirA frase me deixou de boca aberta, porque é, evidentemente, inacreditável. Basta ter dois olhos na cara para ver que tudo o que existe primeiro existe e depois faz outras coisas.
Porém, o mais incrível é que o filósofo não está propondo que seja assim, mas apenas colocando em palavras o que os humanos pensam a respeito de si mesmos: que primeiro pensam e depois existem.
E o pior é o seguinte. Como os humanos vivem assim, acreditando que primeiro pensam e depois existem, pensam que tudo aquilo que não pensa não existe completamente.
As árvores, o mar, os peixes dentro do mar, o sol, a lua, uma montanha ou uma enorme cordilheira: não, não existem completamente, existem num segundo nível de existência, uma existência menor. E, portanto, merecem ser mercadoria ou alimento ou paisagem dos humanos, nada mais.
E quem garante aos humanos que o pensamento é a atividade mais importante do universo? Quem garante que o pensamento é a atividade mais importante do universo? Quem garante que o pensamento é a atividade que divide todas as coisas entre superiores e inferiores?
Trecho do livro: “A Mulher que Mergulhou no Coração do Mundo” - Sabina Berman. (citação do personagem Karen, pela qual estou fascinada).
Ei, clube, estou adorando o livro!!!!